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03/11/09

UMA CANÇÃO PARA A DÉCADA ZERO














Pedro Ramos
Smog - "Dress Sexy At My Funeral"
(Dongs Of Sevotion, 2000)

(A escolha da canção foi feita, assim como o texto abaixo, antes da morte do meu amigo António Sérgio. Não mudei uma linha, pois se o fizesse não estaria a ser honesto. A coincidência é forte demais para ser varrida para debaixo do tapete.)

Mais do que olhar para trás, uma década faz-nos olhar para dentro, mas também ao nosso redor. E talvez aí se sinta mais o passar do Tempo: nos que nos acorreram, nos que nos falharam. O que passámos estes 10 anos a fazer, ao certo? Como passaram tão rápido?
Parece que em quase todas as Grandes Decisões que tive de tomar durante este tempo, a voz do Bill Callahan esteve presente. Salvou-me vezes sem conta com a sua escrita.
Cabe um mundo inteiro no disco onde está esta canção e nesta canção encaixei o meu (quase) sagrado refúgio. Talvez a tenha escolhido pela letra, talvez pelos aaah aaah's do final. Talvez por lidar com a morte de um modo... ligeiro? Será? Canção ligeira ou não, parte-me sempre o coração, enquanto imagina a vida dos outros após a sua saída de cena.
Não suporto os que se levam demasiado a sério e talvez por isso goste tanto do Bill. Faz parte do meu Clube de Palhaços Preferidos (o único do qual tenho cartão de sócio vitalício).
Parece que quando mais precisei de um amigo, Ele apareceu. Assim mesmo, com E maiúsculo. Não Deus mas Callahan. Ele, Smog.
Se a "Wolf Like Me" e a "The Rat" não forem escolhidas por ninguém, ficarei cheio de remorsos, claro. Mas agora, por favor, vistam-se a rigor para esta...

9 comentários:

C disse...

Excelente escolha!

Anónimo disse...

R. I. P. Sr. António Sérgio.

grainha disse...

Co.movem-me as saídas de cena que ninguém espera, as emoções vadias que encontram refúgio ao redor do coração e empurram a alma cá para fora, olhos para fora.
Co.movem-me as palavras que triplicam essas emoções, as catapultam para lugares ainda mais indizíveis, e as vozes que vêm com abraços à la minute, com sorrisos debaixo do lábio, cartola telegráfica que acompanha momentos, qual inefável amante.
A morte é (quase) sempre desconcertante.
Desnuda-nos por completo a um rizoma humano.
Perante a morte, é-se interpelado pelo inexplicável. Também inexplicável é a magia da rádio e da forma terna como nos devolve um calor no peito, com alegria ou consternação.
A voz é o espírito que anima o corpo, e o espírito ficará. Ai ai... <3
Pedro, arrepiei-me com o teu texto e com o sincronismo que o envolveu.
Long live António Sérgio, Callahan et tout vous autres!
(desculpem o ...testamento)*

Jahwork disse...

Boa escolha e companhia esta que te acompanha Pedro!

Um Bom texto também (fizeste bem em mantê-lo puro, sem as lágrimas que te surgiram entretanto).

Sinto muito pela perda do teu amigo (eu que com ele não partilhei iintimidades partilhei tantos e tantos momentos, eu e uma imensa minoria, desde há duas décadas...e esta tristeza não passa), e a Ti e ao resto da "familia" radar os mesu sentidos pêsames.

Honra ao Mestre, o maior e mais bravo, o Lobo que deu e mostrou o mundo (um outro mundo)a um mundo de almas.

Fica bem

asperezas disse...

CLAP CLAP CLAP

Anónimo disse...

Excelente escolha, e que coincidência triste. O Mestre gostou, tenho a certeza.

strange quark disse...

Vá lá! A primeira da década que consigo aplaudir.

Joel Carvalho disse...

Nesta década, Bill Callahan foi o
único a mostrar-nos que a música é a cinza da vida que nos consome refrão a refrão, no caminho subterrâneo até nós.

Pat Pending disse...

Uma música fabulosa, que conheci a partir de uma lista que o Francisco Camacho publicou em tempos num artigo na GQ, sobre as 10/15 músicas inesquecíveis.
Um verdadeiro tratado!